quinta-feira, 25 de março de 2010

UM POEMA DE DYLAN THOMAS

Não entres nessa noite acolhedora com doçura

Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
pois a velhice deveria arder e delirar ao fim do dia;
odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.

Embora os sábios, ao morrer, saibam que a treva lhes perdura,
porque suas palavras não garfaram a centelha esguia,
eles não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os bons que, após o último aceno, choram pela alvura
com que seus frágeis atos bailariam numa verde baía
odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.

Os loucos que abraçaram e louvaram o sol na etérea altura
e aprendem, tarde demais, como o afligiram em sua travessia
não entram nessa noite acolhedora com doçura.

Os graves, em seu fim, ao ver com um olhar que os transfigura
quanto a retina cega, qual fugaz meteoro, se alegraria
odeiam, odeiam a luz cujo esplendor já não fulgura.

E a ti, meu pai, te imploro agora, lá na cúpula obscura,
que me abençoes e maldigas com a tua lágrima bravia.
Não entres nessa noite acolhedora com doçura,
odeia, odeia a luz cujo esplendor já não fulgura.

Poema traduzido por Ivan Junqueira e publicado no livro Dylan Thomas - Poemas Reunidos (1934-1953), da José Olympio Editora.

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