sexta-feira, 1 de abril de 2011

A MORAL NÃO É A ÉTICA DOS EVANGELHOS

Caio Fábio

O Gênesis do ministério de Jesus é tomar as “talhas que os judeus usavam para as purificação” e enchê-las de vinho!

E mais: é inegável que Jesus estivesse também dizendo que Nele, Deus estava casando agora apenas com quem queria talhas religiosas com vinho novo, na pior das hipóteses; ; e, na melhor delas, o que se deveria fazer, era deixar de lado o vinho velho e seu odre roto e pingantemente misturado ao próprio vinho, pois, nesse estágio, já não se sabe mais o que é odre e nem tampouco o que é vinho! O que se deve fazer é começar outra vez à partir de conteineres que se deixem curtir no vinho novo, que de acordo com o apóstolo João, não é novo, mas aquele que desde o princípio tivemos!

Sim, para Ele, aquele odre-vinho-vinho-odre—o da religião das talhas de pedra usadas para as purificações—era já um vinagre, que servia apenas para ser bebido por aqueles que de tão acostumados que estão aos gostos ruins, já não sabem a diferença entre o gosto-gostoso e o gosto-viciado. É para o de-Lei-te de seus viciados consumidores que o vinho-odre-odre-vinho serve ainda como diversão, sendo que o juízo ao próximo é o espetáculo!

Os discípulos de Jesus, todavia, não devem perder tempo com essas questões, e, por isto, precisam partir resolutamente para buscar odres mais adequados à sempre auto-renovação desse Vinho Novo. Afinal, ninguém que tenha se viciado no vinagre dirá que o vinho novo é excelente.

Ora, a Teologia Moral de Causa e Efeito é a fabrica de Odres com Grife e também a marmorearia onde são esculpidas as talhas de pedra usadas para as purificações!

O problema é que em Jesus não dá para se fazer mais nenhum tipo de aproveitamento dessa Industria Religiosa e de suas Grifes e Selos Autorizadas. E a razão é simples: ela está para o Evangelho de Jesus assim como um perverso e desumano traficante de cocaína e heroína está para o bom samaritano—digo: mal comparando, e, apenas, no plano das relatividades humanas, pois, espiritualmente, o meu exemplo é muito menos grave que o contraste espiritual que tento expressar!

Dali, infelizmente, nada se aproveitava, pois eles pensavam que fora dali nada mais tinha valor.

A prova dessa impossibilidade de reutilização daquele sistema de pensamento e suas construções, alcança seu ápice quando Jesus diz que aquele Templo seria derrubado e que dele não ficaria pedra sobre pedra.

No entanto, para que não sejamos exaustivos demais na demonstração, quero apenas que você compare os valores anti-téticos dos ensinos de Jesus em relação aos da Teologia Moral de Causa e Efeito, vigentíssima em Seus dias, e, infelizmente, no nosso tempo também!

E para isto, não precisamos ir além do Sermão do Monte, ou do Abismo, como eu explico que ele pode se tornar em O Enigma da Graça!

A Teologia Moral de Causa e Efeito não pode praticar o sermão do monte porque ele inverte complemente os princípios de causalidades por ela ensinados. Jesus subverte radical e rupturalmente, de uma vez e para sempre, com essa lógica predatória.

Para Jesus os heróis da Graça eram os anti-heróis da religiosidade que o circundava e dos valores por ela ensinados.

Para a Teologia Moral de Causa e Efeito, TMCE— como daqui para frente chamaremos esse derivado natural da Teologia da Terra, filha religiosa do Sacrifício Competitivo de Caim —, o humilde de espírito era o lixo da espiritualidade; os que choravam eram vistos como culpados-infelizes; os mansos eram percebidos como desinteressados pelo zelo que disputava o espaço no chão da Terra; os que tem fome e sede de justiça eram interpretados como seres equivocados em suas ignorâncias radicais, pois, a única justiça que os mestres da TMCE conheciam era aquela que eles mesmos decidiam.

Já os misericordiosos eram os que tinham algo a esconder, daí se protegerem sendo bons com o próximo; os limpos de coração eram eles mesmos— os membros daquela confraria de amigos de Jó, é claro! afinal, não enxergavam seus próprios corações, pois só viam para fora de si mesmos, e, também, não esqueçamos: lavavam as mãos antes de comer!
Os pacificadores eram, em geral, considerados amigos de hereges; os perseguidos por causa da justiça, eram comum-mente aqueles acerca de quem eles patrocinavam o cartaz Wanted Dead or Alive! De preferência, bem dead !

E os injuriados e perseguidos figuravam, sobretudo, como foi no caso dos profetas, em sua lista de Most Wanted ! Esses, afinal, os Profetas, eram sempre a sua pior desGraça, eram os mais terríveis subversivos!

O seu “sal” não era para a Terra, era apenas uma produção egoísta e independente fadada a se petrificar em seus sa-Lei-ros inúteis. Afinal, não se viam no papel de dar gosto à vida, mas, ao contrário, o de roubar-lhe todo o sabor!

Luz do Mundo? Como? Eles não reconheciam nenhum outro mundo que não fosse o deles!

Quanto a Jesus ter vindo para cumprir a Lei, eles se perguntavam: Que Lei? Afinal, Jesus era o des-cumprimento de suas “Leis” a fim de poder ser o único cumpridor da Lei da Graça em nosso lugar, para, então, dizer: “Está Consumado”.

Até mesmo o des-cumprimento da Lei pelos homens—todo aquele que...—, Jesus trata com relatividade quanto a seus efeitos. Ensina-la erradamente, faz alguém ser pequeno; ensina-la corretamente e vive-la, torna alguém grande no reino dos céus. Assim Ele está dizendo que não se deveria jamais ensina-la de modo adaptado e nem tampouco cumpri-la de modo farisaico ou religioso, pois, para Ele, a justiça excede as exterioridades na direção de dentro, pois, nasce no coração.

O que segue é uma des-construção total de todas as “interpretações” da Lei, especialmente as explicitamente defendidas pelos discípulos da teologia dos amigos de Jó, os escribas e fariseus dos dias de Jesus e seus confrades em nossos dias!

“Não matarás”—era o que estava escrito. Homicídio, todavia, é algo que sempre começa, lentamente, nos ambientes de causa e efeito das normas adoecidas do coração, e tem uma progressão que vai da ira sem motivo às tentativas de des-construir o ser do próximo. Por isto, Ele ensina que todo homicida existencial precisar se livrar dos desejos de morte durante o caminho, do contrário, duas coisas lhe acontecerão: ele nunca mais terá nenhuma razão para falar com Deus ou tentar cultua-Lo e, também, esse homem se tornará vítima de seu próprio ódio e se alimentará de suas próprias carnes, por muito tempo—pelo menos enquanto o tempo for tempo!
O adultério, para Ele, acontecia na cama—ou em qualquer outro lugar—apenas depois de ter sido praticado muito tempo antes no coração.
Portanto, os maiores adúlteros podem nunca ter praticado um ato sequer de adultério. É quando o fazer é um detalhe se comparado ao permanente estado de ser dos que nunca cometeram historicamente o delito, mas que vivem em permanente estado de imersão interior nos abismos e dinâmicas permanentes do adultério fantasioso.

O interessante é que entre o tema do Adultério e o do Divórcio, Jesus introduz a questão das perdas circunstanciais ou até mesmo de natureza disciplinar-existencial, que eram nada se comparadas aos ganhos que certos “cortes e amputações” produzem para o bem do ser.

E Sua preocupação maior quando fala do divórcio, não é com o divórcio-em-si, mas com suas vítimas. Naquele caso, era sempre a mulher.
E por quê? Porque naqueles dias ela era o objeto descartável em questão, fruto da dureza de coração de todos nós e todas as sociedades. Ele trabalha contra expor alguém a tornar-se “algo” apenas porque “sem motivo” sua pessoa foi descartada. A denuncia, portanto, recai sobre aquele que “expõe” o outro a ser aquilo que este não deseja ser. E depois, o descartador, ainda faz pior: estigmatiza o “outro” pelo que ele mesmo decidiu: des-carta-lo! Assim, Jesus se insurge contra a estigmatização das desgraças causadas pela infelicidade humana. O que era uma total violação dos ensinos da TMCE!

Juramentos e promessas são por Ele totalmente rejeitados. Primeiro porque ninguém pode bancar nada em espaço ou dimensão alguma da vida.
Depois, porque a única dimensão que vale diante de Deus é a do Hoje.
Portanto, o que Ele espera é que as respostas do ser não sejam piedosas, necessariamente, mas, ao contrário, realidades verdadeiras, como “sim, significando sim” e “não, eqüivalendo a não”. Para Ele o “maligno” morava na fantasia que falsificava a realidade.

“Olho por olho, dente por dente”—era e ainda é a Lei áurea da TMCE.

Jesus, porém, a relativiza para sempre, mostrando sua des-construção como negação de seus princípios de causa e efeito. Afinal, o que Ele recomenda é o oposto daquilo quem em qualquer Moral social, é chamado de Direito. Ser Seu discípulo não implica em que se obedeça tais Leis de causa e efeito, podemos apanhar, ser obrigados, ser até mesmo altruisticamente abusados. Estamos livres para tal. Ou seja: Jesus recomenda que não obedeçamos as Leis de causa e efeito a fim de podermos ser Seus discípulos. E isto inclui os inimigos, que são os que mais poder tem de nos desviar do curso da Graça e nos fazer cair nas guerras patrocinadas pela TMCE. O que eles esperam é uma reação de causa e efeito. O que Jesus propõe é um efeito (misericórdia) sem causa equivalente!

E, assim, Jesus prossegue des-construindo a Teologia Moral de Causa e Efeito.

“Guardai-vos de exercer a vossa justiça diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; doutra sorte, não tereis galardão junto ao vosso Pai que está nos céus”.

Ora, esta declaração de Jesus nos des-monta de tudo o que a TMCE ensina como verdade, justiça e piedade.

“Perdoa as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores”—é o golpe de misericórdia que Ele dá na estrutura de pensamento desse engano humano.

E pior: as causas de vida e morte na Terra são aquelas cujos efeitos são invertidos nos céus. O dinheiro incluído no pacote das inversões de valores.

E avisa sobre a não causalidade entre o comportamento e a verdade do ser, pois, a “luz que há em ti”, segundo Ele, podem se tornar nossas trevas.

Então, Jesus dá um Xeque-mate! Tem-se que fazer uma opção sobre quem é o nosso Senhor. E, sendo Ele o Senhor, o que sobra é “aborrecer-se” e “desprezar” o antigo senhor, e que agora tem que ser coisa de nosso perdoado passado.

Quando Ele fala das ansiedades da vida e nos recomenda descansar na Graça Providencial de Deus, o que Ele também está fazendo é afirmar que as “Leis de causa e efeito” estão relativizados pela Graça da Providência.

O grito que se faz ouvir em objeção ao juízo contra o próximo, é curto e decisivo. Juízo tem, quem se enxerga. Juízo tem, quem não julga. E juízo tem, quem sabe que por melhor que se veja a si mesmo, jamais se verá completamente. Por isto, é melhor não julgar a alma do próximo nunca. E a razão é simples: as medidas de nosso próprio juízo estão estabelecidas pelos nossos próprios critérios no julgamento que exercemos contra o próximo!

E mais: Ele recomenda que não se use nunca as pérolas da verdade de nosso ser para alimentar quem só gosta de babugem e depois se volta contra nós. A percepção da verdade não a banaliza e nem se faz suicida por ela!

Ao recomendar a oração, Jesus estabelece a quebra dos princípios de causa e efeito. A oração é a devoção que em si quebra as Leis do carma. A oração anula a Teologia Moral de Causa e Efeito, pois, dela, até o pecador sai justificado.

Neste ponto Ele diz que a Lei e os Profetas não eram inimigos entre si. Ao contrário, os Profetas haviam sido os melhores interpretes da Lei. Ou seja: antes do Verbo haver se encarnado, foi nos Profetas que a Lei encontrou sua interpretação e seu melhor cumprimento existencial.

Jesus, porém, nos diz:

“Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a lei e os profetas”.

O “resumo” que Jesus faz de todo o seu ensino é horroroso para o coração honesto. Primeiro, porque ninguém, de fato, indo dos abismos da alma à prática cotidiana, consegue encarnar o tempo todo essa verdade.
Ao contrário: nós vivemos a maior parte do tempo de modo oposto, pois, uma das coisas que a Queda gerou em nós foi um terrível poder de auto-engano e auto-anestesiamento.

A segunda razão pela qual o “resumo” de Jesus é contra nós tem a ver com sua propositividade. Jesus propõe que tomemos a iniciativa sempre— sem amargura, sem troca e sem negociação—e tratemos o próximo, seja ele quem for, do modo como gostaríamos de ser tratados se estivéssemos no lugar dele. E aqui não importa em que lugar o outro está, pois, há única pergunta a fazer é: “E se eu estivesse nesta situação, como gostaria de ser tratado?” Ou ainda uma única confissão de fé a ser declarada sempre: “Sistematicamente farei pelos outros aquilo que desejo que os outros façam também por mim o tempo todo”.

Sem falar que quando alguém não se trata bem costuma piorar no tratamento com o próximo. Aqui todos nós temos que humildemente assumir nosso déficit de bondade e nossa profunda capacidade de nos anestesiarmos na vida. A prova disto é que o mundo é como é—e, pior ainda: a “igreja” é como é!

Então, Ele entra no Caminho Estreito e adverte contra o Caminho Largo. Ora, como nos enganamos! Pensamos sempre que o Caminho Estreito é o dos Fariseus e que o Caminho Largo e o dos Publicanos e Pecadores. O Caminho Estreito conduz a Vida, Ele diz.

Então, é fácil saber do que é que Ele está falando. Jesus só recomenda como Caminho aquilo Ele viveu, e como amigos de caminhada, gente como aquela com a qual Ele conviveu.

Como podemos então pensar de modo inverso?

É que somos discípulos da TMCE e não o sabemos. O Caminho Estreito, na Terra, para Jesus, era justamente aquilo que os fariseus chamavam de Caminho Largo. E o que Jesus chamava de Caminho Largo era aquilo que os fariseus chamavam de Caminho Estreito.

O Caminho é Jesus, e o jeito de ser, é também o Dele!

Chega então a vez dos “falsos profetas que se apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores”. E que ironia. Jesus diz que se deve observar causa e feito apenas nas produções do ser.
Isto porque, na utilização do Nome de Jesus com fins lucrativos e roubadores— ou mesmo pela simples e mera auto-sedução narcisista que o poder de encantar e seduzir com o sobrenatural faz nascer como doença em muitos— não há uma relação de causa e efeito entre o ser-devorador (os lobos) e os milagres que acontecem do lado de fora quando o lobo fala usando o nome de Jesus.

Não há nada no mundo espiritual que negue mais as relações de causa e efeito que essa inversão. A Graça de Deus é livre para des-conhecer o suposto “cordeiro-lobista” e levar a Graça do Cordeiro a quem quiser e como bem desejar.

Todavia, que ninguém faça disso a evidência de sua salvação. A salvação é conhecer e ser conhecidos por Deus, em Jesus. E mais: é produzir o fruto que dessa verdade de ser nasce agora naturalmente de modo sobrenatural.

A conclusão Dele nos põe diante da necessidade de escolhermos de duas alternativas, Um Fundamento para a nossa vida. Ou o alicerce de Rocha ou o alicerce das regiões arenosas. A emoção cristã, em geral, quando lê isto aqui é também pervertida. Pensamos na Rocha com categorias farisaicas, com suas manifestações de rigidez, e, sobretudo, de imutabilidade-morta, sem vida e, portanto, estática!

Assim, lemos a des-construção da Teologia Moral de Causa e Efeito feita por Jesus, no Sermão do Monte para, então, no final, voltarmos às emoções patrocinadas pelas Tábuas da Lei de Pedra.

Então, transformamos o Sermão do Monte em Lei, e, por essa razão, ele, no mesmo instante, se torna o Sermão do Abismo, pois, como Lei ele apenas nos enferma ainda mais profundamente por dentro, mas não nos resolve como pessoas, nem dentro e nem fora—pois em ambas as “locações” o Sermão do Monte se mostra inviável: dentro, porque sabemos o quão anti-natural ele é para a nossa própria natureza atual, caída; e fora, porque nossas existências, desde o intimo até ao comportamento, inviabilizam sua pratica, isto se não estivermos falando de amestramento na conduta, mas da honestidade de quem quer ser conforme sabe que deveria ser, e não é!

E a maioria de nós existe nesse limbo entre o véu e a revelação, entre as Pedras das Leis e a Graça de Pedra. Mas poucos sabem da Graça da Rocha e da Rocha da Graça.

E por quê?

Porque nós não cremos, de fato, que Jesus é a Pedra Angular—não o Jesus de nossas invenções, mas o do Evangelho—e nem tampouco cremos que é em Sua Graça que temos a Rocha da Nossa Salvação!

A Rocha é essa Palavra da Graça, que quebra os carmas, destroi os destinos, arrasa as certezas, desmonta os esquemas, a fim de que aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. De outra sorte, onde estaria nossa confiança? Na fé no Deus de toda Graça ou na nossa capacidade de sermos o alicerce de nós mesmos?

A Graça é onde o poder se aperfeiçoa na fraqueza, daí ser o estarmos fundados nessa Rocha o que nos faz, mesmo em fraqueza, vencermos as ondas, os ventos e os açoites das tempestades , e, não tendo do que gloriar, pomo-nos em pé e dizemos:

Jesus, obrigado por teres feito o Caminho Largo o Suficiente para eu passar! E obrigado, porque na minha fraqueza teu poder se aperfeiçoou e, assim, tendo provado de todos os tempos, épocas e estações da vida, aqui estou para dizer, mais uma vez: ‘Para quem irei? Só Tu tens as Palavras da Vida Eterna!

A Rocha é a Graça e a Graça é a Rocha. E a Palavra é a Vida que se vive buscando em fé alcançar e conquistar aquilo que já nos alcançou, embora nós ainda não a tenhamos plenamente conquistado!

E quem é Esse que deve ser Aquele que é o nosso Caminho? E que Caminho é esse? e que Rocha é essa?

Jesus é Caminho, Sua Palavra-Encarnada é a Rocha, e Sua Graça é a Lei do caminhar!

Jesus é aquele que quando se vê no Pai recebendo um filho—qualquer filho—de volta, de antemão avisa: “Não esperem de mim nada menos que uma festa regada ao melhor vinho, pois os pecados já foram lavados com o melhor Sangue!”.

Nesse Caminho com Ele, que é um tabernáculo em movimento, tem de tudo: demônios de todos os tipos, tempestades, perplexidades, interesses escusos, certezas satânicas, exageros desnecessários, zelos homicidas, familiares em pânico, medo de trair, frágeis certezas de jamais trair, traição explicita e implícita, negação e morte !

Mas, para além disso tudo, vê-se que no Caminho com Ele, os ventos cessam, as ondas se abrandam, as Leis fixas do universo são relativizadas, os demônios sabem quem Ele é e quem somos Nele; e, assustados reconhecemos Quem Ele É!

Nesse Caminho as maiores demonstrações de fé vêm de fora da religião, e, também ouve-se a ameaça freqüente que Ele faz para que não se julgue segundo a aparência, mas conforme a reta justiça, pois, não raramente, o que é elevado entre os homens é abominação diante de Deus. Por essa razão, tanto “malandros arrependidos” quanto “réus confessos” podem encontrar seu repouso.

E, para além de tudo isto, a gente vê a morte sendo morta definitivamente na Ressurreição. Todavia, nele também se aprende que se o Verbo entrou no mundo pelas entranhas de uma virgem, Ele, no entanto, saiu da morte ante o olhar de uma mulher, ex-possessa-prostituta!

Assim, a Encarnação des-instala a Moral e a Ressurreição põe o ser-moral no papel de ouvinte provocado, pois, tem que crer no testemunho da Graça nos lábios de quem não gostaria que tivesse sido escolhida, se acontecesse no dia de Hoje—não para dar testemunho do fato da Ressurreição!

Do ponto de vista de uma moral-marketeira-publicitária Madalena seria uma testemunha que não seria selecionada, afinal, ela não tinha nenhuma credibilidade.

Nesse Caminho ninguém é perfeito, mas é da boca de crianças de peito e de pecadores quebrantados onde Ele enxerga louvor.

Sim, nesse Caminho você aprende o que é não estar nem varrido nem ornamentado, porém, sabendo que se a festa já começa com o melhor vinho, que esperar então? Algo menos que a Ressurreição?

Nesse Caminho a gente aprende que Ele nos conhece pelo nome, mesmo no dia seguinte àquele no qual o tenhamos negado—então, choramos amarga e docemente!

A Graça é a Lei do Caminho!

E, logo se percebe, porque Ele mostra, que o Caminho é Ele mesmo, é ser dele e ser conhecido por Ele, e que isto nos tira todo medo, e nos conduz à Verdade, e que é somente nela que se pode experimentar a Vida.

Então você olha e o vê em você!

Você já não vive?

Não! Ele vive em você!

E quem tentará tomar para si esse ser-tabernaculo que se move pelo e no Caminho?

Quem?

Não esqueça, o Mais Valente, é o que faz Mais Valer!

No Caminho, Ele nos garante sempre! Pois é também apenas no Caminho que somos salvos de nos tornarmos parte de uma geração perversa e que espreita como ave de rapina a alma de seu próximo!

No Caminho, “o diabo”, está amarrado e suas possessões na casa do coração são saqueadas pelo Mais Valente! E “ele” está “amarrado” porque o “escrito de dívidas que havia contra nós e que constava de ordenanças” foi irreversivelmente “rasgado e encravado na Cruz”.

Nós, por isto, estamos para sempre livres!

E quando se fala assim, se diz que a salvação humana só acontece num embate de Deus contra Deus, onde o próprio Deus seja o Réu-Justo, sendo julgado pelo Justo-Juiz, o qual, sendo também o Advogado do réu-réu— o homem—, possa oferecer o Réu-Justo como substituto em lugar do réu-réu. Assim é que o Réu-Justo—aquele que recebe o castigo da mais absoluta justiça divina contra o réu-réu—pode ser, Ele mesmo, também, o Advogado do réu-réu.

E, em toda a História só há um lugar onde Deus enfrenta Deus, num combate onde Deus ganha e Deus perde; onde o réu é condenado e absolvido; onde Aquele que é o Justo é feito o Injusto; o que não teve pecado, é feito pecado em favor do homem e de Deus!

Somente na Cruz de Cristo Deus-enfrenta-Deus, e Deus se aniquila e se supera a um só tempo . Na Cruz, Deus vence a Si mesmo e Sua Misericórdia prevalece sobre o Seu próprio juízo; sendo Suas palavras finais a respeito desse Combate, as seguintes: “Está consumado!”

Ou seja: “Esta luta acabou”. Mas para os “amigos de Jó” a luta continua e a alma tem que sofrer todos os dias a dor de acusações que só a tornam menos alma e mais feia!

Nós, todavia, não negociaremos, nem por um momento, a libertação que o Evangelho de Cristo nós trouxe de uma vez e para sempre da Teologia Moral de Causa e Efeito!

Foi para esses—os discípulos da TMCE—a quem Paulo disse: “Quanto ao mais, ninguém me moleste, pois eu trago no corpo as marcas de Jesus”.
“Sem fé é impossível agradar a Deus”. E sem Deus-contra-Deus é impossível haver uma fé que justifique o homem diante de Deus e que traga a justiça de Deus para a consciência humana. E essa certeza não vem com explicações racionais. Ela é filha de uma inerente e incompartilhável certeza de harmonia com Deus, mesmo no caos! E é filha da presença da Cruz sobre nós!

Aos amigos de Jó, o Evangelho diz que o Senhor Jesus contou uma parábola:

Propôs também esta parábola a alguns que confiavam em si mesmos, por se considerarem justos, e desprezavam os outros:

Dois homens subiram ao templo com o propósito de orar: um, fariseu, e o outro, publicando.

O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, Graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.

O publicano, estando em pé, longe, não ousava nem ainda levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, sê propício a mim, pecador!

Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque todo o que se exalta será humilhado; mas o que se humilha será exaltado.
?

Somente “os amigos de Jó” podem ler o Evangelho de Jesus e continuar pensando como os fariseus. A Ética do Amor—que é a única ética do Evangelho— nega todos os pressupostos da Teologia Moral de Causa e Efeito.

A Graça inverte os pólos da Ética, que, em Cristo, se vincula não à Moral, mas à obediência amorosa a Deus; e se expressa como resposta da consciência do amor à inconsciência do próximo, mesmo que seja o inimigo!

E só assim se pode estar livre para agir desse modo, porque quem vive na Graça também já não tem mais nada a provar. Afinal, ou é ou não é! e também não depende nem de quem quer nem de quem corre, mas de usar Deus de misericórdia para com esse ser humano! para conosco! os que nos entregarmos em fé!

Conforme o apostolo João, a si mesmo se purifica, no amor, todo aquele que tem em Jesus sua esperança. Dessa forma, o Evangelho insiste em que se ande no Caminho da Vida, cuja Porta é Estreita—embora esteja aberta a todos—e que nos põe sobe a Lei do Amor.

Sim! o Evangelho insiste em que a Lei do Amor é o melhor de todos os fundamentos para a vida!

E isto, para agora usarmos outra imagem, nos faz ramos da Videira Verdadeira, tornando-nos, assim, pela prática da palavra-amor, Seus ramos-discípulos.

E dessa Videira são cortados apenas os ramos que se auto-excluem pela presunção de pensarem que o ramos pode dar fruto de si mesmo.

À esses, a Videira diz: “Sem mim nada podeis fazer!!!”

Assim, somos chamados a mamar o amor de Deus e a crescermos Nele na frutificação do amor e da misericórdia praticada uns aos outros.
Isto fará com que o mundo nos odeie!

Afinal, o mundo, incluindo sobretudo a moral religiosa, é feito de todos os ramos que auto-engaram-se crendo que o ramo pode produzir fruto de si mesmo!

O mundo são todos os ramos que não vivem da seiva da Videira, por isto secam e são lançados ao fogo.

Todo aquele que não depende da seiva da Graça que da Videira Verdadeira procede—não importa quem ele seja—, jamais produzira o fruto que permanece, pois, este, é o fruto do amor e da vida que brota do casamento do ramos com a Videira-Jesus!

Esses não são nunca amigos de Jó, pois, na Graça, foram feitos amigos de Jesus, pois, à esses, Ele disse tudo o que tinha ouvido de Seu Pai-Agricultor:

“Quem me ama, guarda os meus mandamentos; assim como eu amo o Pai e guardo os Seus mandamentos. E os mandamentos, são um: que vos amais uns aos outros, assim como eu vos amei.”


quarta-feira, 30 de março de 2011

O RACISMO NOSSO DE CADA DIA


Aqui, no Brasil, nós não temos de enfrentar o flagelo do racismo. O brasileiro não é racista. Segundo o escritor e humorista Millôr Fernandes, nossa “democracia racial” está fundada no fato de que, aqui, no Brasil, “o negro sabe o seu lugar”.

Infelizmente, isso parece ser verdade. Aqui, o negro parece saber o seu lugar na sociedade – e isso facilita as coisas para essa entidade fantasmagórica chamada “elite branca”.

Uma nota pessoal: eu faço parte da “elite branca” por direito de nascença. Sou branco, heterossexual, com formação superior e de classe média alta. Ainda assim, graças aos meus pais, fui educado para abominar qualquer manifestação de racismo.

Ao mesmo tempo, quando percebo que algum comentário ou atitude de minha parte possam ser vistos como racistas, eu tento corrigir isso. 

 
Acredito que isso se pode falar da maioria das pessoas: muito poucos brasileiros são abertamente racistas. Aqui, entre nós, o preconceito deslavado tem outros alvos preferenciais, como a mulher, o gay, o nordestino e o pobre, por exemplo.

Graças a Deus, não somos racistas, certo?

Entretanto, alguns fatos teimam em contradizer o mito da “democracia racial brasileira”, uma terra mágica, na qual, independente da cor de sua pele, todos os homens (e mulheres) são iguais.

Segundo artigo do jornalista Mino Carta, publicado na revista Carta Capital: “Em 2002, foram assassinados 46% mais negros do que brancos. Em 2008, a porcentagem atingiu 103%. Em outras palavras, para cada três mortos, dois tinham a pele escura. Na Paraíba, morrem 1.083% mais pretos. Em Alagoas, 974%. E, na Bahia dos blocos de Carnaval, 440%.”

Ou seja, aqui, a violência policial atinge preferencialmente negros pobres. Eu, que sou branco e uso óculos, passo incólume por blitzes da Polícia Militar.

Recentemente, no dia 28 de março, o programa CQC, da Rede Bandeirantes, divulgou um comentário do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), no qual respondendo à uma pergunta da “cantora” Preta Gil, no quadro “O Povo quer saber”.

Questionado sobre qual seria sua reação se seu filho namorasse uma negra, Bolsonaro soltou a seguinte pérola: "Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco e meus filhos foram muito bem educados. E não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu."

No dia seguinte, segundo o UOL Notícias:

“Uma representação assinada por 20 deputados do PSOL, PCdoB e PDT foi protocolada na noite desta terça-feira (29), na Mesa Diretora da Câmara, pedindo que a Corregedoria da Casa investigue o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) por comentários racistas feitos em programa de televisão, exibido no último dia 28. Caberá agora ao presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), encaminhar a solicitação à corregedoria.
Na mesma representação, os deputados pedem também que Jair Bolsonaro seja destituído pelo seu partido, o PP, da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. De acordo com a presidente da comissão, deputada Manuela D'ávila (PCdoB-RS), que também assinou a representação, uma pessoa que não defenda os direitos humanos não deve atuar na comissão voltada para esse fim”.

Mas, graças a Deus, nós não somos racistas, não é mesmo?

segunda-feira, 28 de março de 2011

GABRIELA

Hoje, no início da noite, recebi uma mensagem de texto me informado que a minha segunda sobrinha, a Gabriela, veio ao mundo. Filha muito esperada de Diego e Suelen.

Eu, o tio porra-louca, mando beijos e abraços de São Paulo.

Espero que ela tenha toda a alegria e o amor que houverem nessa vida.

Gabi, Bem-Vinda!

Graça, Paz & Bem!

HOMENAGEM A JOSÉ COMBLIN

Faleceu ontem, pela manhã, o teólogo José Comblin, um dos expoentes da Teologia da Libertação. 
Comblin era de origem belga, mas viveu muitos anos radicado no Brasil, no sertão da Paraíba, onde ajudou a organizar movimentos populares ligados às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).
Comblin, que foi um dos líderes na luta contra as ditaduras militares na América Latina, tinha 88 anos de idade.

"A ação cristã vai buscar a pessoa esquecida, a pessoa que não cabe dentro das estruturas e das categorias e coloca essa pessoa no centro da atenção. Trata-se de um descobrimento da pessoa negada pela sociedade estruturada e estabelecida".

"A libertação não consiste numa mudança de estruturas sociais, o que teria por conseqüência a pura substituição de certos grupos dominantes por outros sem mudar o valor fundamental que é a segurança. Uma humanidade livre é uma humanidade que se deixa interpelar por todas as pessoas que não lhe oferecem nenhum interesse, nenhum valor, que não oferecem nenhum poder novo, nenhuma garantia, mas apenas riscos e ameaças de perturbação".
Trechos extraídos do livro "A Ação Cristã", publicado pela Editora Paulus.

MACBETH: UM ESTUDO SOBRE O MAL

Há muitos anos, sou fã do dramaturgo inglês William Shakespeare. Em sua obra, admiro os temas abordados: amor, ambição e ciúme, por exemplo. E também adoro a forma como ele os trata, com palavras inesquecíveis, que ficam gravadas na mente.

Entre os trabalhos de Shakespeare que admiro, está em destaque a tragédia Macbeth, escrita provavelmente entre 1603 e 1607. Nesta peça, temos um estudo sobre o mal que se esconde no coração humano.


A história é razoavelmente simples: depois de uma batalha contra rebeldes, os generais (thanes) Macbeth E Banquo estão retornando à corte de Duncan, rei da Escócia.

No meio do caminho, durante a noite, ambos encontram três bruxas, provavelmente a Hecatae das lendas gregas. As bruxas, então, saúdam o general vitorioso: "Salve, Macbeth, thane de Glamis!", diz a primeira mulher. "Salve, Macbeth, thane de Cawdor", grita a segunda. "Salve, Macbeth, rei da Escócia", completa a última das bruxas. 
Segundo Shakespeare, na época haviam três generais (thanes), que obedeciam a uma ordem hierárquica. Macbeth, como Thane de Glamis, estaria em uma posição intermediária. Acima dele, hierarquicamente, estariam o Thane de Cawdor e o Rei. 

O general Macbeth, que havia retornado de um massacre de camponeses rebeldes, entende a saudação das bruxas como uma premonição de seu futuro. Um dia, ele será Rei. 

Logo em seguida, como que a confirmar as palavras das bruxas, Macbeth é informado de que foi promovido a Thane de Cawdor, uma vez que o nobre que ocupava este posto havia sido preso por traição e executado. 

E isso basta. A partir desse encontro com as três entidades, a mente de Macbeth passa a ser comandada por essa obsessão. Ele se tornará Rei da Escócia um dia, afinal. Este é seu destino.

 Orson Welles como Macbeth

Com suas ambições alimentadas por sua esposa, Lady Macbeth, o general, por fim, assassina o Rei Duncan, seu primo, enquanto este pernoitava em sua casa. A profecia das três bruxas se realiza.

Mas Macbeth, agora Rei da Escócia, não se sente seguro em sua nova posição. Tomado de desconfiança, assassina Banquo, seu amigo, por este saber do encontro com as bruxas. 

Macbeth, depois de assassinar Duncan. 
Cena de Trono de Sangue, de Antunes Filho, com Luis Mello.

E Macbeth continua inseguro, o que resulta em um banho de sangue. E vemos o rei , e antes, sua esposa, serem devorados pela culpa que sentem pelos seus crimes, até o seu final trágico.

Macbeth, a peça, mostra como um homem normal, o general Macbeth pode ser corrompido por uma simples sugestão. E que, uma vez aceita a "necessidade" de se cometer um ato hediondo - no caso, o assassinato de Duncan - o mal se aloja em seu coração definitivamente. 

Gosto dessa interpretação dessa peça de Shakespeare. Macbeth é um estudo literário sobre os mecanismos do mal, sobre a forma como o mal atua em nossas mentes e corações, até nos transformar em pessoas completamente diferentes. 
No caso do general, que, aparentemente, até o primeiro encontro com as bruxas, era um homem razoavelmente decente, bastou uma sugestão para que ele se corrompesse. 

E a peça mostra até que ponto - a que distância - essa corrupção pode chegar.

Para mais informações a repeito da peça, visite http://pt.wikipedia.org/wiki/Macbeth
Graça, Paz e Bem!

domingo, 27 de março de 2011

UM NAZISTA EM ATIBAIA (SP)

Depois do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as potências vencedoras do conflito - EUA, Inglaterra e a ex-URSS - começaram uma nova batalha: caçar, identificar e punir oficiais nazistas envolvidos no massacre de mais de seis milhões de judeus na Europa. Estima-se que a guerra tenha custado mais de 45 milhões de mortes.  

Para escapar da prisão e da provável execução, vários militares alemães emigraram para outros países fora da Europa, onde viveram com nomes falsos. Para o Brasil, provavelmente com o apoio do governo Dutra, um provável simpatizante do nazi-fascismo, fugiram homens como Gustav Franz Wagner, Josef Mengele e Franz Stangl. 

Esses são os conhecidos.

Gustav Franz Wagner, nascido em Viena (Áustria), em 1910,  foi  integrante da Schutzstaffel, ou apenas SS, nazista, e ficou famoso como comandante do campo de concentração de Sobibor, na Polônia, onde morreram 250 mil judeus. Ele era conhecido como "A Besta". 

 Gustav Wagner, "A Besta"

Por sua entusiasmada participação no extermínio de civis desarmados, ato que requer grande coragem, como sabemos, Wagner recebeu a condecoração Cruz de Ferro do regime nazista. Mas, com a derrota alemã na guerra, foi condenado à morte in absentia (apesar de sua ausência), no Julgamento de Nuremberg. 

 Prisioneiros judeus em Sobibor (Polônia)

Mas, a esta altura do campeonato, Wagner, agora conhecido como Gunther Mendel, já criava animais e hortaliças em um pequeno sítio nos arredores de Atibaia, na Grande São Paulo. Ele tinha recebido um visto de residência permanente no Brasil em 12 de abril de 1950. 

 Wagner, já idoso, quando morava em Atibaia (SP)

Wagner, ou Mendel, foi preso pelo Departamento de Ordem Política e Social (Deops) de São Paulo,  durante as investigações sobre uma festa em homenagem a Hitler, da qual teria participado. Depois disso, ele foi reconhecido por sobreviventes de Sobibor. 

Importante ressaltar que o Deops era a polícia política da ditadura militar brasileira e que, em seus porões, centenas de estudantes, trabalhadores, religiosos e membros da luta armada anti-ditadura foram torturados e mortos sem piedade. 

Apesar de Wagner ter sido reconhecido como um dos carniceiros alemães, o governo brasileiro terminantemente se recusou a extradita-lo, apesar das solicitações de Israel, Áustria e da então Alemanha Ocidental. 

Aparentemnte, nós gostamos de torturadores e assassinos em massa.

Em 1980, dois anos depois de ter sido reconhecido por sobreviventes de Sobibor como comandante do campo, Wagner cometeu suicídio.

Em entrevista à rádio BBC inglesa, em 1979, Wagner, quando perguntado sobre se sentia remorsos pelos seus atos - o gerenciamento administrativo do extermínio de 250 mil pessoas - afirmou: "Eu não tinha sentimentos. Aquilo virou apenas outro trabalho. À noite (no campo), nós nunca discutíamos o nosso trabalho. Nós só bebíamos e jogávamos cartas".  

Texto esxrito com informações da revista Época e do website Wikipedia.

sábado, 26 de março de 2011

CAIO FÁBIO FALA SOBRE SEXO

A presente entrevista foi publicada numa revista destinada ao público punk.
Segue na íntegra.
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-----Original Message-----
From: Silas Fiorotti
Sent: quarta-feira, 15 de outubro de 2003 15:37
To: caio fabio
Subject: ENTREVISTA COM CAIO FÁBIO


Olá, rev. Caio Fábio!

Fico muito agradecido por sua atenção. Segue abaixo as perguntas da entrevista.
Lembro o senhor que esta edição do Fanzine vai falar sobre sexo, e caso tenha alguma colaboração extra, pode enviar que será muito útil.

Um forte abraço e que Deus abençoe!

Silas
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ENTREVISTA COM CAIO FÁBIO SOBRE SEXO:

1) Esta edição do Fanzine fala sobre sexo, então é inevitável fazer algumas perguntas. Qual a função do sexo? E qual o lugar que ele deve ocupar em nossas vidas, e que importância ele tem pra nós?

R: Sexo é a expressão da vida como prazer e sabor. É o ápice da capacidade de sentir, trocar e experimentar todos os sentidos em plenitude. Sexo é bem mais que as pessoas imaginam. É mais que a penetração e as trocas físicas. Pouca gente sabe o que é a experiência sexual em plenitude. A objetização do ato quase sempre impede a viagem ao êxtase e à plenitude do prazer. O mergulho nas águas profundas dessa experiência demanda mais do que corpo. Demanda alma e espírito desinibidos e livres.
Sem profunda intimidade e espiritualidade, nunca haverá êxtase no sexo., mas apenas, no máximo, orgasmo.
O sexo mexe com a essência humana, por isso sua objetização nos dissolve e sua supressão nos achata.
Sexo é parte essencial da vida e do crescimento humano de qualquer pessoa saudável. As exceções existem. São os seres celibatários. Tais exceções, não tendo sido estabelecidas pela repressão, devem ser tratadas como vocações a serem respeitadas, desde que haja voluntariedade e espontaneidade.

2) O senhor foi um dos primeiros evangélicos a falar sobre sexo em seus livros, e com uma linguagem acessível e próxima dos jovens cristãos, e sem ser doutrinária. A igreja evangélica tem se mantido como uma instituição extremamente repressora e vem colhendo muitos frutos contrários aos esperados. Por que os líderes evangélicos (você também se encaixa nisso), não contam suas experiências, percalços e frustrações na adolescência e juventude, e contextualizam a função do sexo para os nossos dias, ao invés de recorrerem a correlações diretas com passagens bíblicas que diziam respeito a sociedade judaica de no mínimo 20 séculos atrás?

R: Meu primeiro livro sobre o tema foi infantil. Foi escrito aos 22 anos de idade e após o "trauma da conversão". Como “antes” eu poderia ser incluído na categoria dos "dissolutos"—minha atividade sexual começou muito precocemente—, com a conversão fiz um movimento inconscientemente pendular. Fui para o pólo oposto. Então saiu um livro meu que eu não recomendo para ninguém, chamado "Abrindo o Jogo Sobre o Namoro". Aquele é um livro que deve ser lido ao contrário: quase tudo o que digo que não pode é justamente aquilo que a "conversão" fizera supressão em mim. Assim, minhas "proibições pessoais" viraram cartilha. Em três anos no máximo eu estava querendo tirar o livro do "mercado". Ele não condizia nem com a Bíblia e nem a condição humana. Depois disso, entretanto, fiz palestras que viraram livros, e que são infinitamente mais próximos do mundo real. Mas tudo foi um processo. Sexo é tema de neurose no ocidente, e na comunidade evangélica ele atinge o clímax de sua expressão como enfermidade.
Eu perdi a virgindade com cinco anos de idade. Minha babá de 13 anos fez o serviço. Daí eu ter crescido sem nunca dissociar a mim mesmo da experiência sexual. O que acontece aos meninos aí pelos 15 ou 16 anos já estava instalado em mim desde sempre. O mais está contado em meu livro "Confissões de um Pastor". Não posso ser acusado de "falta de contextualização" na minha abordagem sobre sexo e sexualidade desde os 25 anos de idade. E, no meu site, o www.caiofabio.net, tais expressões de "contextualização" atingiram sua plenitude até aqui. Quanto aos "frutos" que a igreja evangélica está colhendo, só posso dizer que são coerentes com a lógica da doença que nela se instalou: quanto mais reprimido for o consciente, mais tarado e adoecido será o inconsciente. A igreja evangélica é o “ente social” sexualmente mais enfermo que eu conheço no Brasil.

3) Promiscuidade sexual, relações homossexuais, com animais, objetos, masturbação, enfim; até onde o uso do corpo é normal e sadio, e segundo o padrão de quem?

R: Sobre esses temas eu recomendo uma visita ao meu site, especialmente à seção de Cartas. Lá trato de tudo, e do mais aberto possível, respeitando os limites da mídia em questão, a Internet. Lá só não publico minhas respostas às questões mais cruentas, como é o caso, por exemplo, de pessoas com a fixação em relacionamento com animais. E também poupo as pessoas das respostas sobre os “fetiches” sexuais.
Os limites para o corpo estão estabelecidos não nele mesmo, mas na alma. O corpo aceita quase tudo. A alma não.
Desde o Éden que a mente humana cogita a possibilidade de encontro com animais. Foi Adão quem percebeu a "impossibilidade" de que isso gerasse algo sadio, e também à sua própria altura—conforme o Gênesis, e antes mesmo da Queda.
É interessante que na narrativa bíblica da criação,a mulher vem como resultado do homem não ter encontrado um par que lhe servisse. E não encontrou, sobretudo, porque no sexo há mais que possibilidade de acoplagem de pedaços do corpo. Tem que haver encontro de seres, de almas, de imaterialidades. Violar esse valor trás dês-construção para qualquer alma humana. Pecado é escolher, conscientemente, a doença como modo de viver.
Mas quando mecanismos de "bestialidade", por exemplo, se instalam numa pessoa, nada ajudará tal individuo a sair desse buraco se não for justamente o oposto dele; ou seja: a total dês-tensão, que é o que desmobiliza a compulsão, a tara. Tenho casos de pessoas que buscavam animais para ter relações sexuais—gente de igreja e líderes—, e que só ficaram livres da compulsão depois que foram ajudadas a ver que aquilo não era moral, era psicológico. E que o "pecado" não é contra Deus, é contra elas mesmas.
A noção de pecado só ajuda um ser humano em duas perspectivas: quando ele consegue enxergar aquilo contra ele mesmo e como doença; e, sobretudo, quando ele fica sabendo que pode ter paz para caminhar até entrar na Paz em relação à questão. Ou seja: quando você tira a Lei e apresenta a Graça à pessoa, e ela descansa. Ora, tal descanso não dilui o ser, mas ao contrario, o fortalece para tratar a si mesmo sem os rigores da condenação do inferno, que quando presentes drenam toda sua energia para a construção do que seja bom.
Só então o indivíduo caminha para a pacificação e para a saúde. Nunca a repressão fará uma alma melhor. Somente a consciência descansada promove essa elevação.

4) As campanhas falam para usarmos camisinha , para evitarmos as dst´s. Até onde essas campanhas seriam verdadeiras, e o que deveria ser feito sobre o assunto?

R: As campanhas são importantes. A "igreja" não fala do assunto porque parte de uma lógica farisaica. Ele entende que falar significa estimular. Então, a fim de manter o "moralismo" não ajuda a impedir males bem maiores, e que atentam contra a vida. É o tal do "coem o mosquito e engolem o camelo", acerca do qual Jesus falou. Nosso mundo não é ideal. É apenas real. E enquanto a "igreja" não parar de falar de um mundo que não existe na terra, ela vai estar apenas sendo a mais terrível e desumana participante dos processos que trabalham contra a realidade e a vida. A omissão da "igreja", sempre presa à sua própria imagem, é o pior ídolo que é cultuado dentro dela mesma. A "igreja" cultua a si mesma: sua imagem e sua própria arrogância como "representante" de Deus. Jesus é apenas o pretexto para o culto de si mesma e para o rigor ascético da "igreja". Ele diz glorificar a Jesus, mas não se dá conta de Ele é um estranho para ela, e que se entrasse porta à dentro sem dizer que era Ele mesmo, seria expulso logo a seguir.

5) Muitos cristãos defendem a teoria de que todo casal deve gerar pelo menos um filho para multiplicação da descendência. Essa interpretação das Escrituras já não estaria ultrapassada para os nossos dias, principalmente pela superpovoação do planeta e pela condição sócio-econômica de muitos casais; sem falar na miséria? Não seria muito mais justo a adoção, já que a descendência hoje não implica ter o mesmo sangue?

R: Ora, essa é uma idiotice "católica". Nesse sentido os "evangélicos" são menos neuróticos. Pessoalmente esta sempre foi a minha tese. Gênesis 2: 24-25 nos diz que homem e mulher deixam pai e mãe, se unem, e tornam-se uma só carne. Isto é casamento. O "crescei e multiplicai" foi falado numa terra onde não havia humanos. Nos dias de hoje seria: "Gerai responsavelmente, e adotai generosamente". Eu tenho uma filha adotada. E sei que não existe diferença. O sangue é menos que um detalhe.

6) O senhor teve um caso extraconjugal que lhe rendeu a exclusão do rol dos grandes líderes evangélicos. Eles não mereciam você e escolheram você como um bode expiatório, ou você se entregou para o sacrifício?

R: Eu não tive um caso extraconjugal. Tive um relacionamento conjugal. Meu "casamento formal", aos 19 anos, foi muito mais um caso "extra-conjugal" que o "acontecido", e que "escandalizou" a tantos. Veja como uma coisa é a “aparência” e outra é a “verdade do coração”. Quanto ao "bode" ou ao "cordeiro"—qualquer deles vão para o "sacrifício". Creio que fui um pouco de ambos.
De um lado o "bode" carregou a projeção das doenças e sombras de uma comunidade que fala de luz, mas prefere as trevas; fala de verdade, mas prefere a mentira; fala, mas vive de "imagem".
De outro lado, houve a opção de não deixar a minha vida presa ao circo das imagens, ao presépio das falsidades e das farsas. Ninguém me flagrou fazendo nada. Eu contei. E, pela misericórdia de Deus, sobrevivi até aqui às conseqüências. Mas não há nenhuma "messianidade" no meu ato. O fiz por mim mesmo. Não pedia a Deus que aquele fosse um ato "vicário", e nem tampouco o fiz num acesso de altruísmo, visando abrir caminho para milhões que vivem no jugo da mentira. O que vem acontecendo depois, com milhares e milhares de pessoas me procurando para "abrirem" o coração, é pura continuidade da Graça de Deus. Mas não foi premeditado por mim. Quanto ao "rol dos grandes lideres", nunca estive lá por conta própria. Fui e sou um caso de tirania da Graça de Deus. Passei a vida falando as coisas que aqui digo, e quanto mais as digo, as faço e as falo, mas sou ouvido. Até os meus "inimigos" sabem que o que estou dizendo corresponde à realidade. Eles não gostam apenas porque fazem parte dessa "coisa", não porque possam contestá-la, ou dizer que estou exagerando.

7) Depois de ter seu nome envolvido num escândalo político que denegriu sua imagem, qual a lição que você tirou de tudo isso? E o que você diria pra quem está começando um trabalho social hoje e se vê obrigado a lidar com burocracia e política?

R: Nunca confie em nenhum político. Nem nos melhores. E, especialmente, nos mais ideológicos. Esses são os que mais cultuam as suas próprias imagens, e o deus deles pode se camuflar com as roupagens da "ética"; mas, ainda assim, não passa de culto à imagem. Nesse caso sim, mesmo reconhecendo que um homem com minha consciência não poderia ter si permitido ir até onde me foi insistentemente solicitado, sei que a responsabilidade pelo "desfecho" foi de "alguns amigos", políticos, e que me atormentaram durante meses insistindo em que eu "apurasse" para eles a história. No final fiquei sozinho, e tenho poupado o nome deles até hoje. E por que? Porque aprendi que antes de ser cristão o sujeito tem que aprender a ser homem, e também que cada um faça na vida as suas próprias retratações. As minhas estão feitas. As deles, Deus sabe, ainda estão todas por serem feitas.

8) Valeu pela entrevista e que Deus continue te abençoando. Fale o que quiser.

R: Gostaria que quem quer que deseje aprofundar esses temas e muitos outros, visitasse o meu site www.caiofabio.net. Temos tido um quantidade assombrosa e espontânea de visitações, e há um processo novo sendo deflagrado à partir dele.

Caio

sexta-feira, 25 de março de 2011

MAIS DO MESMO

A inevitável verdade de que fiquei mais velho - e sigo envelhecendo devagar, um segundo por vez - não parece assim tão assustadora. 

Na verdade, eu me prefiro assim, modelo 2011, do que, por exemplo, a versão de 2009. Sem papas na língua, dois anos atrás, eu estava um caco. 

Alguns poucos amigos se lembram disso e, como são bons amigos, não comentam nada sobre isso.

"Nossa, Thiagão! Você está com uma energia boa!", alguns amigos, e amigas, mais espiritualistas, arriscam, de vez em quando. 

Mas, eu decidi me importar com as coisas que realmente fazem diferença de um tempo pra cá.

E, sim, isso é bom!

Graça, Paz & Bem!

quinta-feira, 24 de março de 2011

35 ANOS DEPOIS

Hoje é meu aniversário de 35 anos. Ou seja, nasci em 24 de março de 1976, por volta das 10 horas da manhã, em Santos. 

Não sei se chovia ou fazia sol. E pouco importa. Hoje faz sol. Na verdade, eu acho que vai fazer sol, porque são seis horas da manhã e ainda não amanheceu; o sol apenas se insinua, por enquanto.

Eu gostaria muito de escrever algo profundo e comovente. Ou, que eu pudesse, como Júlio César, o primeiro a tentar construir o Império Romano - tarefa que coube ao seu afilhado, Augustus, afirmar algo como: Vini, Vidi, Vici! (Vim, Vi e Venci, em latim). 

Mas não posso. E não sei se vou poder, algum dia. 

Ao contrário, eu digo, como Bob Marley, um dos meus heróis pessoais: "Lord, I gotta keep on movin". 

Sim, eu tenho de continuar me movendo... Seja pra fente, pra trás, ou em círculos... Mas tenho de continuar me movendo, mesmo quando chega aquela vontade imensa de ficar quieto, em silêncio. 

Dizem que devemos contar nossas bençãos - e agradecer a Deus por elas -  todos os dias, especialmente no dia de nosso aniversário. 

Um coração agradecido é um coração saudável.

Eu tenho as bençãos públicas, coisas sobre as quais eu posso falar e escrever; mas tenho também algumas bençãos particulares, que devem ser mencionadas em solidão, ou para uma ou duas pessoas especiais.

Assim, eu não tenho muito a escrever neste aniversário. Sou um projeto ambulante. E isso é bom...

Ah, sim! Eu estava certo: o sol saiu.

Paz e Bem!

segunda-feira, 21 de março de 2011